Você já parou e refletiu sobre a história da sua vida? Nos momentos que moldaram quem você é hoje, nas pessoas que acompanharam essa trajetória?
Meu nome é Vanessa e, desde pequena, sou apaixonada por ouvir e contar histórias. Cresci no subúrbio carioca, onde as brincadeiras rolavam soltas. Mas enquanto as outras crianças adoravam andar de bicicleta, queimada e pique bandeirinha, eu preferia inventar mundos imaginários e personagens, que ganhavam vida por meio dos meus amigos, geralmente vestidos com os ternos do meu pai ou vestidos e saltos agulha da minha mãe. Foram os meus pais, aliás, que me presentearam com minha primeira câmera VHS, uma engenhoca maravilhosa que me proporcionou uma infinidade de aventuras, desde expedições imaginárias ao Pantanal até a adaptação do famoso sitcom “Sai de Baixo”.
Hoje em dia, a tecnologia está ao alcance de todos, e a garotada já nasce com o dedo pronto para gravar imagens e som nos celulares. Não é à toa que temos uma legião de estrelas e astros mirins do YouTube e TikTok, brilhando com suas performances dignas de tapete vermelho. Porém, com tanto conteúdo disponível em múltiplas plataformas e telas, conquistar a audiência é uma batalha épica. Fazer sua tia curtir seus reels é apenas o começo, o desafio é encher uma plateia de cinema, alcançar o primeiro lugar no streaming ou bombar com seu game.
Assim como nos filmes, a vida é cheia de desafios que precisamos enfrentar para alcançarmos nosso final feliz. No mundo audiovisual, o estudo é fundamental. Por isso, a minha luta contra o trânsito começou no Ensino Médio, quando eu saía de Anchieta com o sol nascendo, em direção ao Colégio Pedro II, no Centro do Rio de Janeiro. Na graduação, fui para um lugar ainda mais distante, até a Praia Vermelha, para cursar Comunicação Social na UFRJ. Com o início dos estágios, meus deslocamentos se tornaram ainda mais longos, e eu retornava tarde da noite para casa.
Quando tive condições financeiras, mudei-me para a Zona Sul. Apesar do novo cenário, sempre mantive um forte vínculo com minha origem. Não há praça melhor no Rio de Janeiro do que a Granito. A batata recheada que vende lá só perde para a comida da minha mãe. Inclusive, minha mãe está produzindo comigo o projeto Contadoras de Histórias, que objetiva formar meninas e mulheres, e também os caras legais, como contadoras e contadores de histórias. E não foi por acaso que eu escolhi Guadalupe para sua primeira edição. Tenho muito orgulho das minhas raízes e plena consciência de que foi no subúrbio, e em todas as distâncias que percorri no transporte público, que descobri uma fonte inesgotável de histórias e inspiração.
Esse repertório me deu coragem para ingressar no mundo do empreendedorismo em 2012. Ao lado do meu sócio e marido, que é tão suburbano quanto eu, e tem sido meu braço direito e esquerdo desde o início do nosso namoro, quando, ainda na adolescência, fundei a produtora Lascene. Escolhemos esse nome de origem francesa, “La Scene”, que significa “a cena”. A escolha não foi acidental, já que a França é o berço do cinema, uma arte que nasceu com as lentes projetadas para a saída de uma fábrica de trabalhadoras e trabalhadores e para a chegada do trem à estação. Lugares cheios de histórias!
As primeiras exibições cinematográficas foram tão fascinantes que Alice Guy Blaché, uma das espectadoras, sentiu-se inspirada a criar suas próprias cenas. Dessa forma, surgiu o primeiro filme de ficção registrado: “A fada do repolho”, em 1896. Inspirado em uma lenda francesa, segundo a qual meninos nascem de repolhos e meninas de rosas, a produção apresentou cenários, cortes de montagem e efeitos especiais nunca antes vistos. Anos depois, George Meliès nos levou em uma viagem à Lua, produção de 1902. Essa história eu aprendi enquanto escrevia o roteiro do primeiro contrato de coprodução da Lascene com a TV, o longa-metragem documental “O Cinema das Mulheres”.
Com 11 anos de experiência no mercado, a Lascene possui um portfólio de obras exibidas em diversos canais, como GNT, Curta!, CineBrasil TV, Prime Box Brazil, Fashion TV e Travel Box. Além disso, estamos atualmente produzindo uma série documental chamada “O Rio que deságua na África”, que explora o tema do afroturismo no Rio de Janeiro, e desenvolvendo nossa primeira obra de ficção, intitulada “Mães Poderosas”. A trama segue Berenice, que se inscreve em um reality show para ganhar uma semana de descanso em um resort na Bahia, mas acaba enfrentando um grande desafio: superar diversas provas baseadas em disciplina positiva sem gritar com seus filhos, que farão de tudo para dificultar sua vitória.
A cada projeto, abraço uma função diferente. Por isso, quando me perguntam qual é a minha profissão, costumo responder que sou “pau para toda obra”. Sou movida pela curiosidade e pela vontade de aprender, e é por isso que sempre estou disposta a assumir diferentes papéis a cada projeto: eu posso ser produtora, roteirista, diretora, contra-regra, executiva, ou qualquer outra coisa que seja necessária para transformar uma ideia em realidade. Claro que nem sempre faço tudo perfeitamente, mas tenho a malemolência típica de quem já jogou baralho no trem.
Confesso que, de todas as funções que já desempenhei, a de ser mãe da Giovana é a que mais me completa. Minha filha de 3 anos é uma fonte constante de orgulho e inspiração. Todas as noites ela me pede histórias e é exigente, porque escolhe o cenário e quem protagoniza, também está começando a criar as suas próprias. Então, ver a imaginação dela se desenvolvendo me enche de alegria e me motiva a ser uma contadora de histórias melhor a cada dia.
Compartilhei um pouco da minha história porque acredito que cada um de nós protagoniza uma narrativa única e fascinante, com momentos de romance, drama, ação, suspense e aventura. Essas nossas experiências e aprendizados são importantes e contribuem para a criação de inúmeras outras histórias, sejam elas baseadas em fatos reais sejam completamente fictícias.
Gostaria de conhecer um pouco mais sobre a sua história! Não precisa ser algo extraordinário, pode ser algo simples e pessoal, divertido ou emocionante. Por exemplo, qual foi sua maior conquista, sua maior vergonha na escola, ou até mesmo seu maior medo? Conte-me tudo, estou ansiosa para conhecer sua história!
Você pode compartilhar aqui no site ou no Instagram. Escreva algo sobre si mesma, sobre suas experiências e aprendizados. Depois, convide outras mulheres a fazerem o mesmo. Vamos criar uma comunidade de compartilhamento de histórias e construir conexões mais profundas entre nós.
Texto de Vanessa de Araújo Souza, Idealizadora do projeto Contadoras de Histórias e produtora audiovisual especializada em criar narrativas audiovisuais para diferentes telas.